terça-feira, 24 de abril de 2012

Yom Hazikaron

Após o jantar, saímos para o Kikar Rabin, principal marco político de Tel-Aviv para participar de uma cerimônia de Yom Hazikaron, quando todo o povo de Israel chora seus caídos e alça os olhos aos céus, pedindo com voz rouca e chorosa que a paz reine absoluta em nosso país. Choramos por aqueles que, com suas mortes, nos legaram a vida e a independência. Nos juntamos e, em uníssono, entoamos tristes canções, poemas e orações - rezamos para que, no nosso país do futuro, os pais não tenham mais que mandar seus filhos ao combate.

Ouvimos na praça, tomada por uma multidão, a sirene que proclamava o minuto de silêncio, o luto nacional, durante o qual a população emudece. O som que atravessa o país, conectando, por um minuto, todos os seus habitantes, em geral tão diferente uns dos outros. Em meio ao mar de jovens e adultos que cobre todo o concreto da praça, revela-se aqui e ali, o choro daquele que perdeu um irmão ou de uma mãe que não mais verá seu filho. No rosto de todos reflete-se a tristeza deste dia.

Aqui não há família que desconheça, com proximidade maior ou menor, a dor do Yom Hazikaron. Todo israelense tem um amigo, um primo ou mesmo um irmão que não voltará a ver. Ouvimos poemas e canções; vimos no telão os relatos de famílias que conheceram de perto a dor de perder seus filhos, jovens com pouco mais de 18 anos.

Escutamos suas histórias: a do jovem sorridente que contagiava a todos e a do adolescente introspectivo que se dedicava a cuidar da natureza e a programas de responsabilidade social. Conhecemos um pouquinho de suas vidas, cada um deles um mundo inteiro. Nos lembramos que cada um deles tinha um nome. Um nome e um pai, uma mãe e amigos - como os que nós temos. Lembramos que os nazistas tentaram apagar nossos nomes e substitui-los por números. Tentaram apagar nossas vidas, mas aqui estamos, buscando um futuro melhor.



Publico abaixo um poema de Yehuda Amichai, em homenagem a Yonatahan Iachil (tradução livre):


Não temos soldados anônimos


Não temos soldados anônimos
Não temos uma tumba para o soldado desconhecido,
Aquele que deseja depositar um ramo de flores
Deverá desfazer sua oferenda
Em inúmeras pétalas finas
Multiplicá-las e dispersá-las ao vento.

Todos os mortos retornam a seus lares.
E todos eles tem nome,
E tu também, Yonathan,
Meu aluno, cujo nome está na lista de sua divisão,
Como também na que enumera os mortos.
Asim como você foi meu discípulo,
Fostes também dono de um nome,
Dono do teu nome.

A última vez que me sentei junto a ti
No caminhão que seguia por um caminho de terra
Próximo a Ein Guedi. 
O pó se levantava e cobria nossas costas
E não se podiam ver as montanhas.
O pó que ocultava
o que viria a ocorrer três anos depois:
Agora.

Peço também àqueles que não o conheceram:
Amem-o também após sua morte,
Amem-o: ele é agora oco,
Um lugar vazio, cuja forma é sua forma
E cujo nome é seu nome.


Yehuda Amichai

3 comentários:

  1. Como sempre,o rabino Daniel, foi brilhante nas palavras e nos transmitiu toda a emoção vivida por nossos filhos. Obrigada.

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    1. Rejane concordo contigo em absoluto . Queria dizer obrigada 'a todos que acompanham e acompanharam minha filha e todos os colegas , mas em especial ao Rab Daniel , que traz uma docura e ternura 'a cada momento que vivem nesta marcha .Bjs De e todos . Saudades

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  2. Faço minhas tb as palavras das meninas acima ,
    Bjo a todos.

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