domingo, 22 de abril de 2012

Majdanek - Um Soco no Estômago

Passamos uma alegre manhã em Lublin, cidade central para o judaísmo da Europa onde, durante séculos os judeus (que chegaram a quase metade da população) conviveram em harmonia com não-judeus; rabinos tornaram-se representantes da cidade no parlamento; eruditos brindaram o mundo com tesouros culturais.


De lá, viajamos até Majdanek (leia-se Maydanek). Na verdade, dizer que viajamos é um exagero, já que o campo de concentração e extermínio ficava a poucos quilometros da cidade de Lublin, fato que nos impressionou: as pessoas estavam muito próximas e podiam ver de suas casas na cidade o que ocorria no lá, podiam perceber de seus lares o terror do campo em seu quintal.

Entrada de Majdanek

Fomos recebidos desta vez por geladas e cortantes gotas de chuva. Os céus nos insinuavam que, apesar da grama verde que se estende além de onde alcançam os olhos, trata-se de um lugar inóspito, que não deseja a presença humana.

Chegando ao Campo

Não imaginávamos que seria assim: Um terrível campo de morte, onde milhares de pessoas perderam suas vidas de maneira degradante e desumana. O idioma carece de palavras para descrever essa barbárie, já que a língua se presta a descrever aquilo que pode ser concebido pelo ser humano, ainda que no imaginário; aquilo que possa ser vislumbrado pela razão ou que, ao menos, tangencie a razão. Majdanek não pode ser descrito em palavras - não em palavras humanas.

Ouvimos os depoimentos de sobreviventes. Sobre a dor de todos os dias. Sobre as insanas e sádicas ordens - totalmente aleatórias e ilógicas - dadas por oficiais, somente para causar sofrimento (ou morte) aos prisioneiros judeus. Ouvimos as histórias de quem, aqui, viu pela última vez a sua mãe, seu irmão, seu filho.

Duchas e Desinfecção




Vimos a proximidade do campo com a cidade - os cidadãos que assistiam passivos ao massacre que ocorria diante de seus olhos, que sentiam o odor fétido da morte e percebiam as cinzas que emanavam do campo. Vimos as câmaras de gás, os alojamentos (verdadeiras armadilhas, onde a fome, a doença e as condições precárias eram cúmplices silenciosas dos nazistas em sua matança). Vimos o local onde os nazistas profanavam os corpos, a procura de dentes de ouro ou jóias que, eventualmente, a vítima poderia ter engolido na esperança de usá-la no futuro para subornar um guarda ou para conseguir um pedaço de pão. Nem mesmo após a morte podiam deixar que descansassem em paz.
Vimos também os fornos crematórios - destinados a reduzir um ser humano à nada.

Fizemos uma breve cerimônia. Recitamos o E-l Malê Rachamim e o Kadish. Por um momento, nos conectamos espiritualmente com todos aqueles que passaram por aqui.

Num extremo do campo há hoje um monumento com as cinzas de milhares dos mortos de Majdanek. Ali nos unimos, nos abraçamos. Dividimos um momento muito intenso. 


Forno Crematório (ao fundo vê-se a cidade - muito próxima)

Monumento


Isso tudo aconteceu. E hoje estamos aqui, diante de tudo. Apesar de tudo. Daqui, deste lugar triste, de dor e de morte, levaremos lições para a vida.


Um comentário:

  1. Fui na Marcha em 2009, na primeira edição em que o colégio esteve presente, e acompanho os blogs das outras edições desde então. Majdanek sempre será um soco no estômago...reflitam bastante durante toda a viagem e guardem essa oportunidade única para toda a vida de vocês. Um Grande abraço para todos, em especial pra Juju!

    Gabriel Bondar

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