quarta-feira, 18 de abril de 2012

Lodz


Hoje, pela manhã, saímos para conhecer alguns marcos da história judaica em Varsóvia, como Mila 18, a praça Rapaport e a Umschlagplatz (tratarei disso num próximo post, depois do jantar e da atividade - vocês terão de ter um pouco de paciência...).

Hoje estivemos em Lodz. Uma cidade que já reuniu quase 250 mil judeus. Foi a capital da indústria têxtil européia antes da guerra, graças a uma rica e desenvolvida comunidade judaica. Essa comunidade foi confinada a um pequeno Gueto que permaneceu ativo até 1944 quando foi praticamente exterminado, através do transporte de seus habitantes em trens para Auschwitz, Chelmno e outros campos. Após a guerra, lá sobraram apenas 900 judeus.

O Gueto era  comandado pelo Judenrat (lê-se Yudenrat), um grupo de judeus designado pelos nazistas para fazer cumprir suas ordens. O líder do Judenrat que comandava o Gueto: Chayim Rumkovsky.

Este foi o Gueto que perdurou por mais tempo durante a guerra. Muitos atribuem isso às difíceis decisões tomadas pelo seu líder, uma pessoa de personalidade complexa, na tentativa de fazer com que o maior número de judeus sobrevivesse, privilegiando os mais saudáveis, que podiam trabalhar para os nazistas, mantendo assim a utilidade do gueto, o que conferia algum valor às suas vidas.

O Gueto passou por dilemas aos quais um ser humano jamais deveria ser exposto, como, por exemplo, o que fazer quando os nazistas pedem a deportação de 20 mil pessoas do Gueto? Quem deve ir? Quem deve decidir isso? Os que tem mais chance de sobreviver devem ser priorizados?


Divido com vocês o depoimento de Israel Tabaksblat (sobrevivente de Lodz) sobre como começou o Gueto e o discurso de Rumkosvky em um fatídico dia da guerra:

"Uma quarta-feira fria, dia 6 de Março de 1940. Fecharam a rua de Piotrakovska (onde viviam muitos judeus) por um destacamento de algumas centenas de pessoas uniformizadas.
Eram cinco da tarde e os judeus estavam proibidos de transitar nas ruas. Penetraram nos apartamentos com tiros e fizeram sair as pessoas às ruas. Deu-se a ordem: em cinco minutos todos devem deixar suas casas. Assim, grupos inteiros de pessoas foram transladados ao gueto. Esta mesma cena se repitiu no dia seguinte em outra ruas, de idêntica forma e de acordo ao mesmo plano. Apenas ao aproximar-se da noite detiveram a matança.... Os judeus da cidade, dezenas de milhares, foram transladados a Baluti (o bairro pobre da cidade)... uma caravana de pessoas carregando objetos sobre as costas e bebês em seus braços, enquanto as crianças maiores caminham ao seu lado, levando também eles fardos em suas mãos. Carregados com os restos de sua mísera equipagem são empurrados e golpeados pelo populach que os acompanha a gritos e insultos."
Israel Tabaksblat

Trecho do discurso de Rumkowski sobre a deportação de crianças do Gueto de Lodz (a íntegra, em inglês, pode ser lida aqui, no final da página)

"Hão desferido um forte golpe contra nosso Gueto. Exige-lhe que entregue o que tem de mais querido: as crianças e os anciãos. Pessoalmente, não tive o mérito de ter filhos e, portanto, consagrei meus melhores anos para as crianças. Estive vivendo e respirando junto com as crianças.
Nunca havia imaginado que iriam obrigar-me a estender as mãos e pedir: 'Irmãos e irmãs, entreguem-se suas crianças! Pais e mães, deem-me seus filhos...!

Durante o dia de ontem, notificaram-me a ordem de expulsar do Gueto mais de 20.000 judeus e, caso não o fizera - disseram os nazistas - 'faremo-nos nós mesmos!'. A pergunta exposta é: 'devemos realizá-la nós mesmos ou deixar que a realizem eles?'...

Tenho que cumprir com esta difícil e sangrenta operação. Tenho que cortar membros para salvar o corpo. Tenho que evacuar as crianças e, caso não o realize - que D-s não me permita - outros também serão levados...
Hoje não posso trazer-lhes nenhum consolo. Muito menos vim aqui acalmar, mas sim para revelar suas penas e dores. Vim como um ladrão, para arrancar o mais querido que tens nos vossos corações. Tentei de tudo o que podia e sabia para anular a sentença. Quando não consegui, tentei atenuar. Somente ontem ordenei o registro das crianças de até nove anos..."
Chayim Rumkowski

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